terça-feira, 18 de agosto de 2015

Hoje o Vulva vem falar para (PASMEM) você que é homem e/ou brancx e/ou héterx e/ou cis

Sim, migas, nós decidimos parar pra falar um cadinho com essa gente (risos). E dentre essas pessoas, estamos nós também. O Vulva é feito por pessoas (verdade, não somos robôs). E dentre nós temos também uma diversidade bem interessante. Mas cada uma de nós sofre uma opressão, pelo menos. Ou sejE, não estamos no topo da pirâmide social.

Porém, sofrer de alguma opressão não lhe dá uma carteirinha VIP pra falar de toda e qualquer opressão, e por isso a gente decidiu conversar, nesse momento, com aquelxs que não sofrem determinada opressão. Já já você vai entender o porque.
Parece que a internet tem um poder sem precedentes de fazer com que a gente queira ter uma opinião sobre tudo. E mais do que isso, você precisa dar sua opinião sobre tudo. Ter um posicionamento é quase uma obrigação. Isso pode até parecer maneirão, mas tem hora que enche o saco. E sério, não temos como ter opinião sobre tudo, porque não conhecemos tudo. E a coisa fica perigosa quando estamos falando de opressões.

Recentemente tivemos um debate no grupo do Vulva Fúcsia no Facebook, onde houve silenciamento de mulheres negras e uma insistência de eliminar a questão racial do debate, no qual o tema principal eram os preconceitos e os estigmas do homem negro, que em nenhum momento dissemos que é maior do que o que a mulher negra sofre, muito menos do que o que a mulher branca. Quando se fala de racismo, não se pode apontar que existem outras "questões mais urgentes", negando a importância da questão racial, especialmente se você é branco e não sofre com tais questões. Ou seja, se você não sofre racismo, você não tem vivência para querer dar legitimidade a uma causa que você não sofre na pele, logo, também não pode vir querendo impor uma hierarquia de opressões.
Titia Audre Lorde nos disse que não existe hierarquia de opressões. Ou seja, não se trata de classificar as opressões em conceitos de “maior”, “menor” ou “pior”. E, principalmente, as opressões estão relacionadas.

Uma luta não exclui a outra, mas não adianta curtir foto de bebês negros no facebook, e num debate querer silenciar, direcionar o debate onde se fala de negritude e opressões históricas pra um tema que não tem a ver com as questões de raça, porque não considera importante a questão para o feminismo. E pior: Dizer que as pessoas negras estão exasperadas ao defender seus pontos de vista no debate. Essa é uma tática de silenciamento extremamente violenta, onde os argumentos da pessoa são invalidados por uma suposta "histeria". Nenhuma pessoa é obrigada a ser didática.

Ok, mas issaqui é uma aula ou um post? Não sei, miga. Mas posso te responder porque estamos falando disso:

Aprenda a aprender. Se o assunto é alguma opressão que você não sofre, aprenda com quem sofre. Você com certeza é a favor ou contra aquele assunto, mas naquele momento o que você acha é menos necessário do que o microfone da Britney num show ao vivo (sdds toxic).

Ainda não entendeu. Vamo desenhar!

O assunto é racismo e/ou cultura negra, e você é brancx?
O assunto é lesbofobia e você é héterx?
O assunto é machismo e você não é mulher?
O assunto é transfobia e você é cis?
O assunto é bifobia e você é mono?
Então...



ASS: Moderorxs do Vulva Fúcsia, com amor!

domingo, 3 de maio de 2015

Olár! 

        Nos dias de hoje, com mais gente acessando as redes sociais e tendo como base de formação intelectual esses espaços, temos um número grande de pessoas que tem seu primeiro contato com o tema feminismo por aqui, oq é ótimo, maravilhoso e esplêndido, pode também ter alguns complicadores nos tererê das informações. Quando uma mulher se reconhece como feminista, seja nas redes sociais ou na sua vida, digamos, real... isso não a faz passar por um processo de 'endeusamento amazônico' e ela não se torna a mulher maravilha, ela ainda convive com as mesmas problemáticas sociais q todas as outras mulheres. 
        Em muitos casos da minha vida, eu só solicito ajuda de homens ou de outras pessoas, quando eu realmente não consigo executar tal tarefa, e ainda assim, nesse raros momentos em que ou não tendo força, ou não alcançando, ou tendo medo de andar a noite sozinha na rua até um ponto de ônibus, algumas vezes já me foi respondido à tal solicitação: 'Mas ué, vc não é feminista?!' 
   MAS CARALHO! SOU MULHER, FEMINISTA E NÃO SOLTO RAIOS DE FOGO PELA BUCETA!

       O fato de nos identificarmos como feminista's não nos exime de passar pelas mesmas problemáticas que as outras mulheres. 
        O fato da mulher ser feminista não apaga as opressões do mundo sobre ela/nós. Não a/nos livra de levar/mos cantadas na rua, de ser/mos agredida's ao reagir a elas, de sofrer tentativas de estupro, entre outras violências que a/nós mulher/res sofre/mos diariamente nos espaços. O fato da mulher ser feminista não muda na cabeça de muitas pessoas que a mulher esta errada em sair de casa depois das dez, de que a mulher de saia curta está "pedindo".
       O fato de ser mulher feminista, não me exime de menstruar, de ter dores, de sofrer por questões amorosas, de sofrer com as cobranças familiares que cobram casamento, netos, monogamia e heterossexualidade. Não estamos isentas a nada disso. 
Não nascemos livres, nosso processo de libertação e desconstrução é um processo diário, e enquanto os homens não compreenderem isso continuarão a produzir machismo e outras formas de opressão, mesmo quando pretendem ser companheiros, quando digo homens aqui, to falando dos q se dizem feministas (os feministos, que não abrem mão do protagonismo nem no movimento feminista e não se conformam apenas em ser pró-feministas).
     O feminismo nos dá o poder de refletir sobre as ações cotidianas e opressoras de nossa sociedade, do que é naturalizado, através de muita luta, mas as mudanças não acontecem como mágica. Feminismo ainda não dá poderes mágicos para vencer todas as violências e opressões do mundo.
A mulher é q é feminista, mas o mundo todo ainda não é. Quando uma amiga feminista solicitar ajuda, acredite, que é pq ela realmente deve precisar, não é por comodismo. 
Bjão!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Hoje vamos utilizar nosso blog para fazer uma denúncia e manifestar apoio à mais uma vítima do machismo. Acompanhamos pelo Facebook a denúncia de um caso de assédio, e pedimos permissão à vítima para falar sobre o caso aqui. Vamos preservar todos os nomes, em pedido da vítima, que teme sofrer retaliações justamente porque a denúncia envolve pessoas do trabalho.

A fala da vítima:

Recentemente recebi uma mensagem pornografica que julguei ser equivocada, pois nunca havia dado qualquer espaço de conversa para a pessoa em questão, então achei que fosse a janela errada.O sujeito em questão é adulta e ciente de seus atos. Publiquei algo a respeito, pq hoje, logo pela manhã, a pessoa enviou uma mensagem se desculpando, mas logo mostrou que não se arrependeu, pois quis iniciar uma outra conversa. Finalizei, excluí e só resolvi falar pq infelizmente isso não é um fato isolado. De vez em quando gente que nem conheço, que me vê comentando em post de amigos, deixa alguma msg, seja ela de "olá", até aí tudo normal, ou umas coisas desagradáveis como "delícia, vc..."

Não considero tais abordagens um elogio, não irei naturalizar e sim, ficarei ofendida com investidas sexuais. 
Não vou considerar normal abrir minha caixa de mensagens e ler o texto de alguém narrando suas fantasias e despejando bobagens,pq simplesmente se acha no direito de tentar a sorte. No referido print a pessoa chega do nada, me chama de exagerada e começa a me ensinar o português que ela diz ser claro. Não sou obrigada a aprender essa linguagem. 
"Ah, foi um elogio! Pq vc ficou ofendida?"
"Vc tá sozinha mesmo... O cara tentou a sorte...


Além disso, a vítima mostrou imagens de uma pessoa próxima tentando invalidar sua denúncia, e justificar a atitude do agressor:


























As pessoas ainda acreditam que quando uma mulher é assediada ela só tem que levantar as mão pro céu e agradecer, porque afinal de contas alguém lhe quer e sua missão na terra, de ser um ser a disposição do interesse masculino, foi cumprida. 


E não, essa visão de que é 'apenas uma investida, vida que segue, deixa isso pra lá', não nos contempla. Cada uma sabe do seu limite, e o que pode ser assédio pra mim, pode não ser assédio para outras, por conta de inúmeros fatores de reprodução cultural, mas se eu digo que me senti assediada e agredida por tal investida não deslegitime a minha denuncia nem a denúncia da amiga. 
Em toda nossa vida, fomos descritas e ditas pelos outros, nosso comportamento ditado e regulado pelos outros, hoje, se temos o minimo poder de nos dizer e nos anunciar, estamos aqui fazendo justamente isso, dizendo que flertar é diferente de assediar, sobretudo se eu não der brecha pra isso, e não é um elogio. E eu nem nenhuma mulher deveria se sentir feliz quando recebe uma cantada canalha, e ser objetificada não nos faz sentir especial.


O assédio é mais uma das estratégias do patriarcado para colocar as mulheres do lugar de frágil. É uma nítida forma de intimidação. O macho pode falar o que quiser pra uma mulher, e se ela reclamar está sendo histérica, não sabe ouvir um elogio. Não vamos nos calar, não vamos aceitar que objetifiquem nosso corpo, que nos intimidem e nos excluam dos espaços públicos! Vamos resistir, por nós e por todas.

Meça suas palavras, e respeite as mina!

domingo, 22 de março de 2015

Não sou fã da teledramaturgia nacional. Mas não precisa ser fã pra saber o discurso impregnado nos produtos de mídia da tv aberta: novelas com elenco 90% branco (num país de maioria negra, cerca de 53%), onde se mostra sem caricaturizar apenas a vida de quem é rico, bonito e heterossexual. E essa tem sido a realidade das novelas desde que comecei a acompanhar folhetins já na infância.

Pois bem, vamos ao que interessa e falar do último beijo gay do momento que balançou a semana: Entre as atrizes Fernanda Montenegro e Nathália Thimberg, damas da teledramaturgia e cinema nacional (no caso de Fernanda, até mesmo indicada ao Oscar).  Tivemos já um histórico de beijos gays e boicotes às novelas que os exibiram. Gisele Tigre e Luciana Vendramini protagonizaram o primeiro beijo lésbico na TV brasileira (mas poucos assistiram porque foi no SBT e esbarrou no silêncio ao tratar do tema ditadura militar. A justiça caiu em cima) Tiveram os beijos Globais:  Félix e Anjinho, Giovanna Antonelli e Taina Muller e o da novela  Império entre José Mayer e Kleber Toledo. Todos tinham uma história de fundo para ganhar a aceitação do público. Eram beijos limpinhos, entre gays e lésbicas sem trejeitos, com mais história de amor do que história de casal (história de casal tem trepada, tem briga e tudo mais). Era meio que um KY que os autores colocavam na trama pra poder colocar essas cenas “chocantes” nas novelas.

Então, na trama Babilônia, que já começa com assassinato, orgias e violência, resolveu colocar um beijo gay sem ter uma história explorada, apenas um amor já consumado entre duas idosas e aí vem o chorume de merda nos comentários da internet, com direito a fim de amizades que sobreviveram até ao protesto (coxinhaço) de 15 de março. Podemos apontar 3 problematizações iniciais nesse beijo:
Uma das imagens usadas no boicote à novela
1º Beijo lésbico sem apelo sexual: Afinal, muitos héteros homofóbicos  já tiveram o desejo de ter duas mulheres lésbicas na cama, porque só isso explicaria a enorme quantidade de filmes eróticos com essa temática. Um beijo lésbico que não é objeto de desejo é tratado como aberração pelos segmentos tradicionais da sociedade. Falar disso é como falar de mamilos: exibições de peitos em público que estão ali apenas para serem objetificados são muito bem aceitas enquanto que peitos exibidos em protesto, ou que não estão nos moldes  de beleza, que representam algo além dos peitos, são repudiados e apedrejados.

2° Beijo entre duas idosas: A mulher só tem um momento em que pode exercer sua libido enquanto mulher e ser aceita. Casada, com o marido e pra procriar. E jovem. É, isso mesmo. A sociedade castra a mulher depois de uma certa idade por motivos de menopausa e etc. Cria-se aquele mito do casal de velhinhos que não transa mais, mas que tá junto apenas por amor. Gente, pelamord deus, independente da sexualidade da pessoa, IDOSX TRANSA SIM! MULHER IDOSA TRANSA, MULHER IDOSA LÉSBICA BEIJA, AMA E TRANSA! Se vc acha motivo de panelaço duas idosas beijando só porque são idosas, to torcendo pelo seu envelhecimento precoce.

3º Lesbofobia: Um beijo gay com uma história, em que se conheça a conduta e a história dos gays e ele ainda q seja um pouco afeminado, ele faça a questão de manter a “postura” e só troque carinhos com o “parceiro/companheiro” dentro de casa, dá pra pensar no caso. Agora duas mulheres idosas que nem sei qual é a delas, não interessa quantos anos elas se amem mas eu só vi elas agora passando na rua merece panelaço sim. Fico pensando a mente dessa pessoa se qualquer pessoa tipo eu, você que está lendo, seu filho ou filha beijando uma pessoa do mesmo sexo na rua, meu bem... os casos de lesbofobia e homofobia só aumentam. Acho que isso responde as nossas inquietações.

O beijo da novela não serviu pra mudar a mentalidade do público mas serviu pra expor quem ele é.

domingo, 15 de março de 2015

Gente linda dessa terra Brasil. Não tá sendo fácil pra ninguém. Por isso, viemos através deste post tentar lançar palavras de esperança e força em vosso coração (solta o Kenny G, DJ!)

Somos negrxs, mulheres cis ou trans, homens trans, não binárixs, lésbicas, homossexuais, bissexuais, assexuais, com necessidades especiais, etc. E mesmo dentro desta sopa de letrinhas, somos únicxs, exclusivxs. Mas o sofrimento que passamos cotidianamente nos aproxima de alguma forma. Nossa dor cria uma corda que nos amarra e nos sustenta.

É difícil levantar da cama sabendo que, naquele dia, muitas pessoas serão agredidas, violentadas, assassinadas. Como é complicado ter força pra sair de casa quando você leu no dia anterior a denúncia de um assassinato, estupro, violência doméstica, capacitismo, racismo, homo, trans, lesbo, bifobia. Precisamos arrancar forças de dentro do pâncreas pra enfrentar essa sociedade escrota.

É foda. Sentimos isso todos os dias. E não queremos chegar aqui e dizer que você precisa levantar, precisa enfrentar, precisa lutar. Você não é obrigada a nada, miga. Mas você pode, se quiser, resistir. Nós também queremos pessoas que nos deem força pra brigar. E se você nos der força e a gente der força pra você? Pode acontecer!

Vamos nos fortalecer, nos emponderar. Dá vontade de se jogar na cama, nunca mais levantar. Eu tenho medo, muito medo. Eu tenho medo pra caralho de sair de casa e levar uma lâmpada na cara. Eu tenho medo que minhas amigas sejam estupradas quando voltam pra casa. Medo escorre pela minha alma. Mas o medo não consegue me paralisar, porque quando a gente junta uma cambada de gente que tem medo, conseguimos transforma-lo em uma maré de revolta. Conseguimos nos apoiar, e usar esse medo pra reagir.


Temos demandas específicas, sem dúvida. Mas podemos nos apoiar. Podemos e devemos nos ouvir. E, principalmente, nos questionar sobre as opressões que também reproduzimos. Afinal, nessa sociedade em que a discriminação é estrutural, ao mesmo tempo que sofremos, reproduzimos opressões.



Esse texto é um manifesto em favor do emponderamento, da sororidade. Enquanto houver uma de nós sendo agredidx, ofendidx e humilhadx, não estaremos livres.